sábado, 11 de setembro de 2010

Sinto tanto prazer em sentir,
que sentindo me sinto completo
parece que me ocupa a paisagem
uma vastidão interior.
(As vezes, sentir despedaça.)
As cores, o odor, a libido...
vivo encantado com a vista.
Também me observo de perto,
com o olhar de um paisagista.
Amante, esteta esclarecido,
sigo a erótica platônica,
que o sábio não sabia sustentar,
se esta ou a sua filosofia.
Que idéia aspiro apreender?
Do belo ou do verdadeiro?
Do belo, pois vejo que existe.
A verdade, por força, não há.
Detras desses olhos aereos
Queimam fogos e fornalhas.
Por tras desses olhos de sono
Moram monstros ancestrais.

Detras destes olhos de chuva
Movimentam-se maquinas pesadas.
Por tras desses olhos aquosos
Auto-fornos e auto-claves.

Placas tectonicas nao se acomodam,
Uma fome imensa não se aplaca,
Por tras desses olhos de gelo
Muitas focas são assadas.

Dentro dessa armadura de vidro,
olhos aflitos fazem digestão.
Meu novo telefone é mágico,
fala, grava, escreve e lê.
Recebe e responde minha correspondência,
(automaticamente)
coisa que me custa fazer.

Meu novo telefone tem mil comandos
que facilitam operações
inúmeras funções tão úteis
que se prestam ao apertar de butões.
Funções que não sei usar,
mas aprenderei, pois aprendí:
da necessidade a mãe é a invenção.

Meu novo telefone é tão novo,
um estranho desconhecido se torna obcessão.
Viver sem ele: não posso fazê-lo
e muito menos esperar
o lançar de seu próximo modelo.
Sou amante da noite
do ocaso à aurora
rezo não ver o sol
no globo pela beirola.

Cuimes tenho do astro
flamejando fulgurante
que venha tirar-me a lua
tomá-la como amante.

Que venha ofuscar estrelas
queridas minhas irmãzinhas
e vazio me encontre
a errar de manhazinha.

Se o mundo tenho por pasto,
que hei de fazer do céu?
Da minha casa, telhado.
De m'a cabeça, chapéu.
Lagartas de tanque
Rodas de caminhão
Mós de moinho
Só dizem: sim! sim! sim!

Lajes de concreto
Couraça de vergalhão
Coberta de manta asfáltica
Só dizem: sim! sim! sim!

A nau não pode parar
e urge seu 'venha à mim'
mordendo seu próprio rabo
negando seu longo fim.
É o tédio excesso e falta
O inferno que todos tememos
O tempo que nós temos
nos tem e não nos solta.

O tempo que habitamos,
O tempo em que eu habito
Se vazio parece vasto
Se ocupado parece falta.

Se tenho o que fazer, vivo.
Se não, mato.
Somente a vida alheia
tem comço, meio e fim.
A vida não é assim.
A minha vida é para mim,
apenas e sempre,
...enquanto.